
Já se sentiu incapaz de funcionar até nas tarefas mais rotineiras? Então, este artigo é para si. E o yoga também.
De um lado, Freud, Carl Jung, Philippe Pinel! Do outro, B.K.S. Iyengar, Swami Vivekanana, Patanjali. De um lado, a psicologia. Do outro, o yoga. Na procura de uma vida melhor, em vez de olhar para as duas disciplinas como filosofias sem pontos de interseção, talvez seja mais indicado derrubar a barreira que as separa. Foi isso que fizeram o professor de yoga Jean Pierre de Oliveira e o responsável pela Coordenação da equipa de enfermagem no serviço de urgência psiquiátrica do Hospital de São José, Francisco Cruz, no passado dia 27 de fevereiro. Juntos, dirigiram um workshop sobre os benefícios do yoga nas patologias emocionais. Estivemos com eles e revelamos-lhe hoje o segredo para uma vida livre de depressões, desequilíbrios e crises. Quer já uma dica? Está tudo na sua mente.
Oriente/Ocidente; kleshas/desequilíbrios; vrittis/patologias emocionais, sankalpa/técnica da auto-sugestão; as terminologias são diferentes, mas o assunto é o mesmo: a doença. «Se a ideia é lançar as bases para uma melhor compreensão do ser humano e da sua mente, o primeiro passo a dar é desconstruir estas dicotomias», defende Jean Pierre de Oliveira. «Felizmente, já começa a haver um estreitamento entre oriente e ocidente», lembra. Porque entre a deterioração da sua saúde e o seu bem-estar, pode estar apenas o seu estado de espírito. Ou melhor, o seu controle sobre o seu estado de espírito. Melhor ainda, a consciência desse mesmo controle. O yoga, portanto!
Das patologias e suas somatizações
Mas vamos por partes. Primeiro, o problema: as patologias emocionais. O que são? Francisco Cruz explica: «São reações aos desequilíbrios das nossas emoções». E desenvolve: «a vida humana acontece numa dinâmica constante entre equilíbrio e desequilíbrio. As emoções são reações, automáticas e inconscientes, que projetam, para o exterior, os reflexos do que estamos a sentir». Mas avisa que é preciso saber distinguir entre sentimentos e emoções, as últimas, mais problemáticas e superficiais, tendem a ser igualmente mais intensas e caprichosas.
Relacionamentos, vida profissional, vida social, estabilidade (ou instabilidade) económica, tudo entra na equação que mantém as nossas emoções equilibradas ou não. Um desequilíbrio maior resultará em uma qualquer patologia emocional. Trocando por miúdos, crises de ansiedade, fobias, perturbações obsessiva/compulsivas. Por sua vez, estas patologias poderão despoletar uma ou várias manifestações (somatizações orgânicas, isto é): alergias, asma, urticária, insónias, sensação de fadiga, diminuição das capacidades do sistema imunitário, dor e até alterações cardiovasculares e respiratórias. E se achava que as consequências ficariam por aqui, some-lhe outras duas: «disfuncionalidade relacional e dificuldade na vivência familiar».
Reconhece o padrão? Agora só tem de o desconstruir.
Finalmente, o yoga!
Em conversa com vários yogis, há uma frase que parece repetir-se ipsis verbis: «o yoga mudou a minha vida». Quando o dizem, a maioria destas pessoas não estão a referir-se aos benefícios desta prática para o seu corpo (apesar de muitos e muito variados), estão a referir-se sobretudo aos benefícios para a mente. O próprio Jean Pierre atesta esta mudança: «Há pouco mais de 7 anos era Gestor de Marketing numa grande empresa, trabalhava demasiadas horas, estava sempre desligado de mim e vivia infeliz. Hoje, o yoga é a base da minha vida. E sinto-me sereno». É deste tipo de mudança que os yogis falam.
Para compreender o modo como a prática de yoga afeta a mente, vejamos o que nos ensina o Yoga Sutra de Patanjali sobre os cinco estados da mente. Ela pode ser/estar inquieta, iludida, distraída, concentrada e, finalmente, controlada. O nirvana seria uma mente controlada, isto é, livre de pensamentos e capaz de superar desequilíbrios nas emoções. O caminho para essa mente controlada é o yoga. Pela sua prática, nos livramos dos vrittis (pensamentos flutuantes) que nos separam de nós mesmos e nos livramos dos erros da mente (ou kleshas): Avidya (ignorância), Dvesha (aversão), Râga (atração/apego), Asmita (ego) e Abhinivesha (apego à vida/medo da morte).
Se quisermos (e em jeito de sumário), no contexto das patologias emocionais, os tratamentos psiquiátricos são a cura, o yoga, a prevenção. E aqui está uma muito boa razão para dar uso ao seu tapete de yoga.
A cura pela mente
Se aceitamos que um estado de espírito negativo tem uma série de consequências nefastas para o nosso corpo e mente, podemos aceitar o inverso também. E aqui, psicologia e yoga concordam. A ciência oferece-lhe técnicas como a de autossugestão do psiquiatra berlinense Johannes Heinrich Schultz (com provas dadas no tratamento do stress e crises de ansiedade) mas a filosofia do yoga oferece-lhe exercícios como o Dirga Pranayama e o Yoga Nidra. Ambas, trabalham sobre a verbalização e/ou consciencialização de fórmulas simples e sua repetição. Mas o que em psicologia se chama autossugestão, numa sala de yoga chamamos de sankalpa (resolução). Este é o princípio do yoga restaurativo e dos exercícios de yoga nidra, com os quais os professores terminam todas as aulas de hatha yoga. Assim, nos convidam a ativar as qualidades positivas que existem dentro de nós, mas que permanecem bloqueadas no subconsciente. Assim nos devolvem ao nosso dia-a-dia.
*artigo publicado na edição de Março da Reki & Yoga.
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