
Por Céu Coutinho
Senhoras da Nossa Idade
Facebook/Senhorasdanossaidade
Comecei no yoga há dez anos, numa altura em que procurava uma actividade que pudesse conciliar com uma fase de grandes mudanças e adaptações na minha vida. A minha primeira filha tinha nascido há poucos meses, eu tinha regressado ao trabalho e, aos 31 anos, estava finalmente a crescer e a levar com o embate da vida adulta cheia de obrigações, exigências e horas marcadas.
Inscrevi-me no yoga à hora de almoço, procurando rentabilizar o tempo numa actividade que me desse uma espécie de 2 em 1: exercício físico e terapia mental. Lembro-me perfeitamente da primeira aula. Achei difícil. Suei, custou-me controlar a respiração, fiquei na dúvida se era aquilo que me ia transmitir a força e o equilíbrio de que sentia estar a precisar para voltar a ter controlo sobre a minha vida, a minha mente e as minhas emoções.
Persisti, claro, e a prática foi-se tornando mais fluída, comecei a colher os benefícios e a alcançar não só uma maior paz interior como um corpo mais tonificado, ainda a recuperar de uma primeira gravidez. O yoga tornou-se parte da minha rotina, não de uma forma automática, mas de um modo progressivamente profundo e abrangente. Quase sem dar conta, dei início a um processo imparável que me fez ir adoptando comportamentos que vão desde escolher uma alimentação mais saudável até aprender a desfrutar melhor do vaivém das ondas do mar ou da brisa que agita as folhas das árvores numa manhã primaveril. Julgo que despertei.
Os anos passaram, fui tendo diferentes professores, sempre dentro do nível Iniciados. Até que o meu professor da altura sugeriu que era tempo de passar para os Intermédios. Fiquei de imediato nervosa e adiei essa mudança o mais que pude. Os Intermédios eram aquela malta com ar de profissionais do yoga que pareciam capazes de aguentar 15 minutos na mesma postura sem o esboço de um queixume. E eu estava tão bem onde estava. A curtir a minha zona de conforto, qual é o problema?
Adiei a transferência de classe por um ano. Depois percebi que tinha 35 anos, e não cinco, e que, se calhar, já me deixava de medos infantis. Nas primeiras aulas com o novo professor, eu suava cada vez que ele se aproximava, com medo de pressões, em mais do que um sentido! Valeu-me tudo o que tinha aprendido sobre respiração, como inspirar e expirar de forma prolongada nos ajuda a lidar, física, mental e emocionalmente, com vários tipos de “pressões”.
Os anos passaram, a prática foi evoluindo, o meu corpo foi-se tornando mais maleável e flexível, o medo das posturas difíceis ficou controlado. Ainda não consigo pôr o pé atrás da cabeça e nunca conseguirei (já não tenho cinco anos) mas não me importo de tentar. Às vezes fazemos a “ponte” (não sei o nome “científico”) e custa-me horrores. Quer dizer, agora já custa menos. Faço-o com um esforço brutal, muito distante da leveza com que executava essa postura em criança. Mas, caramba, se me pedirem para fazer a ponte agora, é já.
Aqui há uns meses, o professor mandou fazer o pino. O pino-pino (não sei o nome “científico”), tal como fazíamos em criança, com as mãos no chão e toca de içar o pernão cá para cima. Foi um choque. As minhas pernas não subiam sozinhas, o prof. teve que ir lá ajudar. Nunca fui uma grande ginasta, nunca fiz uma boa roda, por exemplo. Mas o pino?! Não brinquem comigo! Aos 15 anos, eu era a rainha do pino. Aos 20 ainda o fazia sem dificuldade alguma, aos 25 de certeza! Que raio aconteceu?
Não sei (quer dizer, além de terem acontecido os 40 anos). Sei que na aula seguinte já consegui levantar as pernas sozinha. Fiz o pino sem ajuda e, se não voltei a ter 15 anos, ganhei (mais) uma nova perspectiva. Em mais do que um sentido!!!
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