Sou corredor. Sempre corri. Mas sou principalmente um Yogi que corre. Não faço yoga por que corro. Corro porque faço Yoga e esta é a minha particularidade. E, acreditem, cada vez que termino uma corrida, agradeço o universo por ser um Yogi convicto!
Corro desde que me lembro, pequeno já, tinha sempre os joelhos esfarpelados. Aos 16 anos, levantava-me às 6h todas às Quarta-feiras para ir correr no parque florestal junto a casa dos meus país, no parque natural de Flins sur Seine. Aos domingos, um pouco mais tarde, às 9h, pois não precisava de ir as aulas e deixava me estar na cama, mas sempre ansioso por saber que era dia de correr…
Nem sei porque o fazia, mas tinha esta necessidade de velocidade, de gastar energias e sobre tudo de gerir a minha mente, ordenar os meus pensamentos. Sempre pensei muito, era um jovem rapaz complexo sempre com a sensação de pertencer à um mundo diferente. Não percebia muito bem o bom senso comum e para ser aceite pelos outros, fazia de conta que era como eles.
Corria regularmente e independentemente do tempo ser frio ou chuvoso. Corria porque precisava do meu tempo, só para mim, para estar como os meus pensamentos, Eu e o meu Ego, longe de tudo e de todos, sem o conhecimento do que era, ou do que podia ser, a minha autoconsciência.
Ficava tão satisfeito, feliz e realizado. Sabia que era bom para mim, não sabia ainda que era o meu mindfulness running, a minha meditação em movimento. Embora a minha irmã, Anne Christine, já praticasse e me falasse de Yoga, para mim correr era a única forma de me auto-gerir mentalmente. Não sabia então que corria para poder valorizar o que faço hoje.
Continuo a correr com uma certa regularidade embora o meu trabalho me deixe pouco espaço para gastar os meus ténis. Gosto de correr por dois motivos, mas sempre quando preciso de me centrar. É o único momento em que o telemóvel está longe, a não ser para desfrutar da minha playlist musical, cada vez actualizada para me deleitar deste momento, como fechado num bolha de oxigênio em que posso pisar o alcatrão, concluir os meus 12 quilômetros e repor as emoções no sitio (ou seja na gaveta) para não interferir com as minhas decisões e actuar de forma ponderada e madura.
O segundo motivo, é quando tenho excessos de criatividade e que as ideias fluem intensamente na minha cabeça… As aulas por donativo livre da Mouraria nasceram entre Xabregas e a Expo, tal como o Yoga Pure O2, o Yoga Tónico e muitos dos posts que escrevo. Preciso de por ordem na minha cabeça e gerir as minhas prioridades do momento.
Se afirmo que corro porque faço Yoga, é que correr me obriga a relembrar o bem que o Yoga me faz ao corpo… O impacto dos meus pés pesados no solo faz o meu corpo ficar tenso cria-me contrações nos músculos e articulações, principalmente nos joelhos e na zona lombar, as vezes também nos trapézios, ficando eu com a zona superior das costas, abaixo da nuca, com uma ligeira sensação de dor. E como nem sempre tenho vontade de alongar os músculos, quero logo tomar banho para limpar o corpo e as ideias. Fico assim com o corpo dorido acumulando com as semanas intensas e os fins de semana de trabalho… E Conforme já o partilhei, não sou o típico professor de Yoga. Não tenho aquele corpo esguio cheio de (hiper)flexibilidade natural… Imaginem o efeito negativo no meu corpo!
Tenho o corpo pesado e articulações duras. Talvez seja por isso que entendo tão bem os alinhamentos, a necessidade dos meus alunos e as suas dificuldades. Sou persistente, resiliente e o desafio de abrir e expandir o corpo sempre me impulsionou, na minha intenção perante a minha prática e perante o meu tapete de Yoga. Não estou no Yoga porque me é fácil, pelo contrário! Cada prática é um desafio físico e mental.
É por isso que cada vez que corro e que o meu corpo fica mais tenso e contraído, retiro mais prazer e benefícios da minha prática pessoal de Yoga, sentido os seus efeitos na pele e nos ossos, e todo o bem que esta pratica milenar transmitida de forma intuitiva é boa para mim.
Correr faz me sentir quanto o Yoga é bom para mim, para o meu corpo e para a minha mente, dissolvendo a minha rigidez, e inflexibilidade, quer físicas quer mentais, para voltar a ganhar fluidez e mais à-vontade nos meus movimentos e na minha vida ao quotidiano.
Não faço Yoga por que corro. Corro porque faço Yoga!
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