A vida passa, o tempo esgota-se sem darmos por isso. Todos sentimos o mesmo. E sentimos que queremos retirar mais desta vida, destes momentos que nos passam entre os dedos como se fossem grãos de areia. Queremos sentir que algo permanece, que a nossa presença física e que as nossas ações não sejam só uma memória. Queremos sentir que tudo o que fazemos, não seja só uma história passada, da qual só nos resta vagas recordações que vão desvanecendo com o tempo. Mais ainda, queremos que as memórias deixem de ser recordações e que permaneçam connosco e com os outros, que nos acompanhem na nossa jornada de seres humanos, a cada momento e para todo o sempre. Queremos não ter de olhar para trás para criarmos o sentimento e a sensação segura que a nossa vida valeu a pena, e que depois de deixarmos este corpo, que algo subsista na consciência universal e que tenha alguma utilidade para a expansão da mesma.
Queremos praticar yoga, achamos que “é por aí” que nos faz sentido caminhar para responder a esta necessidade de valorizar a nossa existência. O yoga é uma forma de se alcançar várias coisas ao mesmo tempo e por vezes nem sabemos o quê, nem sabemos bem qual o nosso objetivo final, mas temos a nítida intuição que faz parte do nosso desenvolvimento, e isto, também não sabemos bem porquê. Talvez queiramos alcançar algo que nos faça sentir bem…e de todas as opções que nos foram apresentadas, o Yoga é aquele que nos atrai mais, que nos seduz mais, por ser uma modalidade “filosófico-prática”, em volta de ciência mística e de filosofia milenar, por estar sempre à mão e ser completamente exótica ao mesmo tempo, por não requerer nenhuma habilidade específica em particular e porque a sua principal ferramenta somos nós mesmos. Isto, todos temos, porque está aí ao nosso alcance, ou pelo menos assim parece…
Parece tão simples mas continuamos a deixar passar o tempo, e ele passa, vai, e acaba por se confundir com a nossa imaginação. Deixamos de acreditar que a um certo ponto o que perdemos já foi o presente. E passamos o presente a reviver este passado perdido para não o esquecermos de forma definitiva. Parece mesmo uma história de loucos, e os loucos, somos nós mesmos. E é este quebra-cabeças que o Yoga nos promete resolver dando-nos os meios necessários para encontrar as soluções adequadas, e é o que nos prende, porque nos desafia a superarmos a nossa mente. É um desafio interior que exige de nós que se aceite o facto de sermos o único e principal interveniente do jogo, acarretando com todas as responsabilidades que levaram ao tipo de vida que temos agora, às mágoas que nos pesam, às dificuldades que nos endurecem, aos obstáculos que nos enfraquecem. Uma vez entendidas as regras do jogo, é um jogo que nunca vamos deixar.
Mas, ao acharmos que nos aproximamos da solução e que começamos a entender os princípios deste jogo psicológico, ao desenvolver continua e gradualmente uma visão diferente do mundo que nos rodeia, esta nova consciência mais expandida que se foi desenvolvendo silenciosamente irá criar por si novos desafios que nos levarão cada vez mais próximos de chegar à conclusão que temos de nos desprender do que era o nosso objetivo inicial, para que este seja finalmente alcançado. Teremos assim aprendido ao mesmo tempo o verdadeiro sentido do desapego, tornando-nos mais maduros e mais sábios. E ao alcançar este objetivo final, este mesmo irá levar-nos onde queríamos estar sem darmos por isso: Aqui e Agora.
O yoga é esta ciência, o método que nos dá as ferramentas para mantermo-nos no tempo como se estivéssemos a viver em modo de câmara lenta, permanecendo nos momentos que nos fazem sentir mais vivos, em suma, é viver em permanência com a consciência do momento presente, em estado de iluminação, em Samadhi. Viver em modo de yoga é viver no “aqui e agora” e é quando percebermos este Sutra de Patanjali: atha yoga anushasanam. E agora, o Yoga começa.
O primeiro dos ensinamentos de Patanjali para entendermos o que é o yoga, é afinal, também o último.
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