Por Gonçalo Duque Plaza,
Psicólogo clínico, Coach e Hipnoterapeuta
Muito se ouve falar de ansiedade e depressão. Mas saberemos, realmente, fazer a distinção entre estes dois conceitos? À parte de uma explicação mais técnica sobre o assunto, atentemos às situações que se seguem, que podem ajudar a trazer luz sobre algumas das suas possíveis manifestações.
Imagine que se encontra a fazer um passeio pela savana africana. Imagine que está a passear, tranquilamente, e eis que, de repente, lhe aparece um leão à frente. Entre vários sinais fisiológicos que podem emergir naquele momento, o seu ritmo cardíaco aumenta, as pupilas dilatam, começa a transpirar, todo o seu corpo fica tenso. Tudo isto é normal, afinal tem um leão à sua frente: o seu corpo está a preparar-se para lutar ou fugir. Imagine agora a ocorrência dos sintomas acima descritos, mas sem a presença do leão. Está em estado de alerta, sente-se tenso, experimenta uma sensação de agitação interna, sente-se receoso, angustiado, inseguro. Vive sensações algo difusas, que envolvem todo o seu ser, que lhe transmitem um sentimento de falta de controlo sobre a sua vida, como se estivesse dentro de uma nuvem espessa, com medo dos sítios desconhecidos onde poderá ir dar.
Isto é ansiedade. Se, até certo ponto, a ansiedade é considerada como um mecanismo adaptativo na relação do ser humano com o meio envolvente, ela passa a ser menos adaptativa quando vivenciada em excesso e por longos períodos, interferindo com o nosso funcionamento regular. Vivenciamos uma sensação de mal-estar geral, ainda que, por vezes, difusa e inexplicável. A partir de determinada altura é como se receássemos o próprio medo – medo de ter medo de algo que nos possa acontecer (para o qual não nos sentimos preparados, ainda que, objetivamente, esse medo possa ser desproporcional face à realidade).

Vejamos agora outra situação. Imagine-se um intrépido explorador dos desportos do mar, dominando as ondas em cima de uma prancha de surf, subindo e descendo em harmonia com os movimentos da água, apreciando as sensações que aquela experiência lhe traz, tirando partido do ambiente desafiante que o rodeia. Imagine agora que, de repente, todo o ritmo dessa cena desacelera abruptamente, como se se esgotasse a energia que o alimentava, lentificando todos os seus movimentos, fazendo com que perca o controlo da prancha, caindo de uma dessas ondas do mar, vendo-se a si próprio submergir num espaço profundo, estranho e desconhecido. Imagine-se a procurar compreender esse espaço onde agora se encontra, procurando por um qualquer caminho de evasão, por uma porta que se abra para sair dali, por alguém que o ajude a escapar daquela situação. Imagine que caminha, errática e prolongadamente por esse espaço. As poucas coisas que ali ia encontrando, e das quais se podia alimentar, começam a escassear. Começa a movimentar-se cada vez menos numa tentativa de salvaguardar a pouca energia que lhe resta. Se até dada altura ainda procurava uma forma de escapar, começa agora a perder a esperança de encontrar uma luz ao fundo do túnel, refugiando-se e encolhendo-se num canto daquele estranho espaço. Espaço este que se torna denso e opressor, onde lhe é difícil respirar, como se as paredes se encolhessem sobre elas próprias, ocupando e limitando o seu espaço vital. Como se das paredes se desprendesse algo, uma substância, que o deixa anestesiado, desvitalizado, vazio de si próprio.
Isto é depressão. Sentimentos de solidão, variações significativas de humor, desinteresse pelos seus compromissos, perda de interesse pelas coisas em geral, evitamento das relações de proximidade, fadiga e melancolia, desesperança em relação ao futuro, são alguns dos marcadores que podem indiciar estar-se na presença desta problemática.

Ora, se apresentámos aqui cenários hipotéticos de expressão da ansiedade e depressão, que nos permitem fazer uma primeira distinção entre elas, é importante que passemos a mensagem de que a complexidade destas problemáticas, com os consequentes prejuízos que acarretam para quem delas padece em termos de saúde e bem-estar, torna necessária e urgente a disponibilidade de um olhar experiente que saiba atuar, terapeuticamente, sobre as suas mais variadas formas de manifestação.
Gonçalo Duque Plaza
Psicólogo clínico
gdplaza.psicologo@gmail.com
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