Yoga, a procura pelo corpo perfeito

Por Jean-Pierre de Oliveira
Master teacher | Functional Hatha & Yin Yoga; 
Founder | YogaSpirit Studio Lisboa; 

Enquanto professor de Yoga, mas também enquanto pessoa com a vontade de viver num mundo mais compreensivo, gosto que se pratique Yoga e gosto que se fale de Yoga. Quanto maior a sua divulgação, maior é a probabilidade que outros transformem o seu quotidiano, criando novas bases para ver e viver o mundo de forma diferente, melhorando assim as suas vidas e, por consequência, a vida de todos nós.

Quando surge a vontade de mudança é quando aparece a ideia de praticar Yoga e o inevitável reflexo condicionado, impelido pela sociedade moderna, de procurar na Internet informações sobre o que desejamos encontrar. Mas o que a Google nos diz é que do outro lado da porta do estúdio de Yoga só iremos encontrar pessoas magras e com corpo de atleta. Encontra-se um produto final sem passagem pela transição, sem passar pelo desafio e pelos sacrifícios inerentes às mudanças de hábitos enraizados (resiliência, comprometimento e força de vontade).

Foto por Gustavo Valente

PROCURA PELO CORPO PERFEITO: OS DISTÚRBIOS
Frequentemente, o que se partilha no mundo virtual é a imagem dum corpo esculpido e talhado para a performance, exibindo um estereótipo que não é bem um reflexo da realidade das aulas de Yoga. O Yoga não se destina unicamente a pessoas com esta combinação perfeita de força, flexibilidade e de controlo corporal. Fazemos aqui uma analogia: para motivar as pessoas a praticarem Yoga projeta-se uma imagem de perfeição através da divulgação e fotografias com poses intimidantes e corpos perfeitos, levando a que muitos de nós acabem por se sentir marginalizados e desenvolvam a ideia de que são inferiores, esquecendo que estas fotografias atrativas não são de pessoas comuns, mas sim de pessoas que respondem a critérios gerais de perfeição. De facto, quando olho para os meus alunos, e mesmo quando olho para mim, vejo mais do que isto. Vejo de tudo: altos, baixos, magros e mais gordos, flexíveis, menos flexíveis, e ou- tros que são um pouco de tudoisto ao mesmo tempo.

Após este primeiro passo, o da procura, o segundo será sempre o mais difícil! Se decidirmos que algo deve mesmo mudar e que esta determinação consegue superar os nossos medos interiores, como por exemplo o medo de estarmos rodeados de pessoas perfeitas, e mesmo assim decidirmos empurrar a porta do estúdio e entrar na sala de prática, convém informar-se previamente sobre o tipo de Yoga que se propõe experimentar para evitar a deceção ligada a um eventual desajuste, que poderá criar outras frustrações limitadoras

Foto por Gustavo Valente

ONDE ESTÁ O AMOR-PRÓPRIO?

Felizmente, passados estes obstáculos – os medos interiores e as dismorfias corporais –, e vencendo a insegurança ligada à possível comparação e competição entre yogis, irá, aula após aula e com uma prática regular, ficar mais solto por fora e por dentro, tornando-se mais confiante e ponderado. Quando sentir que o resultado ultrapassa o simples objetivo de mudança inicial, mesmo que este último estivesse exclusiva- mente ligado à parte física, saberá que a “cabeça” também está a mudar. Não me canso de referir: o Yoga não é uma competição e não se trata de atingir a perfeição. A prática deve ser usada como uma oportunidade para conectar a mente com o corpo. Use o Yoga como uma ferramenta para se aceitar a si próprio e trabalhar a autoestima de forma progressiva e consistente.

Foto por Gustavo Valente

RECUPERAR A AUTOESTIMA E A AUTOCONFIANÇA

É importante relembrar que uma das grandes vantagens do Yoga é a sua adaptabilidade, quer seja na sua filosofia, quer seja nas suas ferramentas. É por possuir estas propriedades incríveis de versatilidade que o Yoga se tem propagado. Sim, o Yoga é para todos! Existe um tipo de Yoga para cada tipo de corpo/personalidade, oferecendo práticas diferenciadas: lentas, dinâmicas, suaves, restaurativas, terapêuticas, etc. Sabemos igualmente que o Yoga é uma metodologia que promove o afastamento à identificação da personalidade subjetiva (aquela que criamos para sermos aceites), que procura o desapego dos frutos das nossas ações e do culto da imagem, cujos significados nos desviam da realidade (de quem somos realmente) através das suas técnicas de controlo mental, apuradas ao longo de milhares de anos de prática, e que nos levam a desenvolver pensamentos castradores e limitativos. Todos estes aspetos deveriam, por si só, ser motivação suficiente para abraçar este desafio, mas a verdade é que, para se chegar até aí, é preciso praticar…

Jean-Pierre de Oliveira
instagram: jpierre_yogaspirit


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