Por Luísa Pinheiro
Co-fundadora da Cabelos Brancos e ativista contra o idadismo
Dizem que momentos como aquele que estamos a viver, uma pandemia global, pode despertar o que há de melhor e pior na humanidade.
Infelizmente, no que toca à dignidade humana das pessoas mais velhas, o despertar tem sido tudo menos positivo.
O vírus do covid-19 está definitivamente colado às pessoas mais velhas, no sentido negativo, muitas vezes falseado e discriminatório.
Em Portugal, a faixa etária com mais números de casos está entre os 40 e os 49 anos. A mortalidade é efetivamente mais elevada no grupo acima dos 80 anos, especialmente, em pessoas do sexo masculino.
A ideia de que esta batalha é nossa, das gerações mais novas, é absurda e divergente!
Dizem que os nossos avós tiveram a guerra colonial, o 25 de abril, e nós “os não velhos” temos o covid-19. Os nossos antecessores estão vivos e também vivem esta pandemia!
Afirmam que os velhos não respeitam as ordens de isolamento social, de confinamento, que são todos teimosos e estouvados.
Quando na rua vemos pessoas de idades mais novas a fazerem exatamente o mesmo ou pior: vão correr, vão à praia, vão passear o cão 5 vezes ao dia, todos os motivos são válidos para quebrar a quarentena… Neste caso, os mais novos, são apenas leves transgressores e não “velhos idiotas”, que não sabem obedecer a ordens de estado de emergência social.
Há umas semanas atrás morreu um jovem de 14 anos de covid-19 e a forma como a jornalista transmitia a notícia tinha um ar mais grave do que o habitual. Quando anunciam que morreu um idoso de covid-19, os mais novos, “respiram de alívio”.
Velho nojento, velho rabugento, velho inútil, velhos com os pés para a cova. Os velhos são todos iguais, dizem os ignorantes. Só mudam o tom quando falam do seu velho ou velha, que pode ser um pai, uma avó, ou uma tia.
Ninguém se vê como futuro velho e pouca gente tem empatia pelos velhos além dos seus.

De Espanha veio uma notícia arrepiante.
“Covid-19. Grupo de idosos infetados recebido com pedras e explosivos em transferência de lar em Espanha.
De acordo com o relato da polícia, as ambulâncias que transportavam o grupo de idosos foram apedrejadas e um carro atravessou-se no caminho. Mais tarde, houve outros atos violentos que incluíram o arremesso de engenhos explosivos e a queima de contentores”.
Se fosse um grupo de crianças infetadas, a reação seria a mesma?
Não, não seria.
Esta pandemia colocou a nu toda a discriminação, intolerância, ódio e preconceitos que perduram entre as diferentes gerações.
Novos / produtivos / saudáveis Vs Velhos / inúteis / doentes.
O ódio está mais vivo do que nunca e vai deixar marcas irreversíveis na humanidade como um todo.
Luísa Pinheiro
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