Por Gonçalo Duque Plaza,
Psicólogo clínico, Coach e Hipnoterapeuta
Possivelmente já passou por fases em que, ao acordar, pensou no quão difícil ia ser aquele dia e no enorme esforço que teria de fazer para aguentar até voltar a deitar-se. Sem desvalorizar a ocorrência efetiva de situações perturbadoras, digamos apenas que uma parte do peso sentido é da sua inteira responsabilidade. Nos dias que correm é frequente ouvirmos ou lermos que somos aquilo que pensamos, que os nossos pensamentos moldam a nossa realidade. Até que ponto acha que estas afirmações fazem sentido? Já sentiu “na pele” a constatação destas “verdades”?
Cada um de nós está constantemente a contar a si próprio – através do nosso diálogo interno – uma história sobre aquilo que acredita ser a sua vida. Quantas vezes acontece que essa história tem como personagem principal a desvalorização das nossas capacidades e competências, isto é, a desvalorização do nosso valor pessoal? Teimamos em pensar sobre nós com um tom crítico e reprovador, quais juízes implacáveis das nossas vidas, repetindo até à exaustão – no referido diálogo interno – aquilo que classificamos como sendo as nossas falhas.
Seja por influência da cultura ou do ambiente social e/ou familiar, habituámo-nos a produzir pensamentos tendencialmente pouco benéficos ou mesmo prejudiciais, cristalizando-nos em pensamentos negativos e pouco flexíveis que adquirem, tantas vezes, um tom de convicção íntima depreciativa do nosso Eu (ex.: que pouco valor tenho, não presto para nada; sempre me disseram que não tenho jeito para o desenho, nunca conseguirei ser um bom arquiteto; se os outros não conseguiram fazer aquilo, de certeza que eu também não consigo, não adianta sequer tentar). No fundo o que estamos a dizer a nós próprios com estes pensamentos é que, façamos o que fizermos, quaisquer que sejam as nossas escolhas, não somos suficientemente capazes e, frequentemente, que os outros serão sempre melhores que nós.

Estes pensamentos que transportamos, de tão intrínsecos que são, quase viscerais, podem acabar por se confundirem com os nossos próprios valores: deixar de pensar assim significaria pôr em causa uma parte da nossa identidade, daquilo que nos define enquanto pessoas.
Se nos debruçarmos um pouco mais sobre este aspeto, percebemos que aquilo que pensamos é uma escolha nossa. Mesmo que nos tenha sido “colocado” por outros, alimentar esse pensamento foi uma decisão voluntária. Aquilo que pensamos passa a ser aquilo que sentimos e, consequentemente, aquilo que fazemos (ou deixamos de fazer). O que fazer então quando aquilo que pensamos nos prejudica? Quando nos controla e influencia as nossas escolhas? O que fazer quando aquilo em que acreditamos (porque o pensamos frequentemente) nos limita?
Ora, a questão essencial é: se permitimos que um pensamento negativo entrasse e ocupasse espaço, até ao ponto em que ficou como que “impregnado” em nós, porque não experimentarmos o inverso? O que nos impede de iniciar um treino em que nos concentraremos apenas na construção de pensamentos positivos, de pensamentos que nos sejam benéficos?
Visualize a semana que se estende à sua frente. Pense naquilo que tem de fazer, nos desafios que o esperam, nas obrigações a cumprir. Trata-se de uma escolha sua, optar entre persistir no (velho) pensamento de que não é capaz, de que não sabe como fazer, de que a semana vai ser um peso grande, e o (novo) pensamento de que o sucesso está ao seu alcance, de que tem as competências necessárias para aquele e outros desafios, que tem todo o valor pela pessoa que é. Quando optámos, no passado, por persistir num determinado pensamento, predispusemo-nos a fazer uma aprendizagem em que nos “ensinámos” a acreditar numa certa perspetiva. Porque não experimentarmos agora “aprender” a elaborar pensamentos positivos, construtivos, promovedores do nosso desenvolvimento e da nossa felicidade?
Voltando ao início – somos aquilo que pensamos – o desafio que lhe proponho é o seguinte: comece a dizer a si próprio que é capaz, comece a construir essa (nova) convicção. Exige treino e esforço, sim. Exige dedicação, também.

Inicie hoje o seu plano de treino mental, que tem em vista um objetivo primordial: promover a reorganização dos seus padrões de pensamentos. Deixo-lhe uma sugestão para iniciar esse treino: escreva num papel os aspetos que gostaria de ver melhorar – por exemplo, se sente falta de confiança em si elabore uma frase poderosa que contrarie aquela falta de confiança, e que promova o seu inverso (o ganho de confiança) – pode ser uma frase como “a cada dia que passa sinto-me excecionalmente seguro e confiante”; “sinto uma confiança fantástica a preencher todo o meu corpo”; “Sinto-me cada vez mais fabulosamente confiante em todas as áreas da minha vida”. Pode parecer-lhe estranho, algo descabido ou mesmo doloroso, de início, mas responda-me a esta questão: quando iniciou o seu treino de ginásio, ou as suas aulas de ioga, não lhe foi também um pouco difícil no começo? Use e abuse destas frases. Elas deverão tornar-se em alimento diário para o seu cérebro. Deverão ser construídas de forma absolutamente poderosa e impactante. O cérebro está permanentemente atento ao diálogo interno que estabelece com ele e tudo vai fazer para que esse diálogo se transforme em realidade. O poder é, efetivamente, seu!
Aposte em si. Construa a convicção de que a sua nova vida está ao seu alcance e sob o seu controlo, de que depende apenas de si. Escolha focar-se no seu bem-estar e no seu sucesso. Decida como orientar a sua vida e fazer as suas escolhas.
Amanhã, ao acordar, o que é que vai querer dizer quando se olhar ao espelho?
Gonçalo Duque Plaza
Psicólogo clínico
gdplaza.psicologo@gmail.com
instagram: goncaloduqueplaza
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